sábado, 27 de junho de 2009

o menino de chocolate


Vou-te contar a verdadeira história do “Chico Dark”, o menino de chocolate. Logo após o nascimento, a surpresa foi geral. A mãe, “White com Passas”, nunca imaginara ter um “Dark”, e logo a 70 %. O pai, um exemplo para toda a família, era “de Leite”, simples, gostoso e bem clarinho. No entanto tinha havido na sua família um descarrilamento chocolateiro, quando um avô aventureiro, se apaixonou por uma chocolatinha de São Tomé, de 80%. Estava ali a razão do nascimento do Chico, seu nome completo, Francisco Late Dark, na escola abreviado para Chico-Late Dark.
O Chico foi crescendo feliz, embora com um feitiozinho muito especial. Era p’ro amarguito, quando lhe chegava a mostarda à tablete. Como verdadeiro chocolate que era, o Verão era uma consumição. Sabia mesmo que uns parentes italianos afastados, os Ferrero Rocher, recusavam-se a sair de casa naquele período do ano, mesmo que fossem tentados pelo Ambrósio, um fulano tenebroso ao serviço de uma duquesa queque que pretendia liquidar toda família sempre que desejava algo.
No entanto, o Chico, destemido e duro como era, inventou uma roupagem protectora para as suas passeatas de Verão. Numa festa importante encontrou os manos Moet e Chandon, dois champanhes de riquíssima qualidade, vestindo roupas chiquíssimas prateadas, que os mantinham sempre fresquinhos. Pois, foi com eles que aprendeu o truque… encomendou coisa semelhante e resolveu o problema que o atormentava. Enquanto todos andavam de calções e t-shirts, o Chico saia de casa todo quitado com capa prateada que lhe cobria o corpo por completo, não o deixando derreter. Mesmo assim, havia dias, que sentindo-se amolecer, tinha de correr para o hipermercado mais próximo, e meter-se uns bons minutos numa arca congeladora sem ninguém ver. Foi numa destas aventuras derretidas, que o Chico foi apanhado pela controladora. Estava escondido no meio dos camarões congelados, e quando encontrado no lugar errado, foi logo colocado na prateleira respectiva, a dos chocolates. Era o início da sua grande aventura! Poucos segundos depois, sem tempo para fugir, foi comprado por um menino encantado. Apaixonado, e porque sabia que a sua namorada coleccionava chocolates, levou-o com muito carinho para a sua amada, que feliz com uma prenda tão bonita, a colocou numa vitrina linda, com montes de chocolates. Fez muitos amigos, chocolates de origens diversas e de raças multicores. Brincava muito com os endiabrados Smarties e estudava com o coelhinho da Páscoa, um sábio na arte de ensinar tudo o que um chocolate deve saber. No entanto, embora de vidro, aquilo era uma autêntica prisão… Tinha tantas saudades, de voltar a ser um chocolate livre e travesso. Um dia apaixonou-se pela mais recente moradora, Regina de seu nome. Descendente de uma família Imperial, era linda, doce, soft, recheada … Juntos sonhavam com a liberdade e derretiam-se em beijinhos. Uma noite, distraidamente a menina dos chocolates deixou a porta da vitrina aberta. Foi o milagre tão esperado. Era Verão, e embrulhados em prata, os dois fugiram e eu próprio não sei onde hoje vivem. Tenho no entanto o pressentimento que Chico-Late e Regina são felizes, vivem perto de um congelador, porque derretem-se de amores um pelo outro…

domingo, 21 de junho de 2009

castelo na lua


É mais uma história de princesas, castelos, príncipes e dragões. Nesta, a Princesa era mesmo quase real, embora andando de vez em quando na lua. Dizia-se lunática e por isso mesmo chamou um arquitecto especialista em também andar na lua e ordenou:
- Senhor Arquitecto, quero morar perto da lua…
O arquitecto coçou a cabeça e chegou a comparar este pedido com um outro, de um dragão, que lhe tinha solicitado viver no mar. Dizia, vai lá saber-se porquê, que queria misturar-se com o azul das ondas… Fora um grande desafio: mar, fogo, dragão, implicam quase uma coexistência impossível. Mas, pensava ele com os seus cordões (não, não é erro, aluado como é, o nosso arquitecto já há muito tinha perdido os botões da camisa, que apertava agora solenemente com bocadinhos de atacadores, de várias cores): se o dragão lá continua sem o fogo se apagar, a Princesa também perto da lua há-de morar…
Era um projecto arrojado para o Senhor Arquitecto Lopes Loureiro! Assinava LL, e entre os colegas e clientes era conhecido pelo Lopes da Lua. Não valerá a pena qualquer explicação, depois do episódio dos cordões, mas uma coisa vos garanto: só ele poderia satisfazer o sonho da Princesa.
A Princesa não tinha nome, como em todas as fábulas, verdadeiramente apaixonantes. As outras, as que não tendo castelos encantados e ousados, as que aparecem escarrapachadas nas revistas de historietas sociais, todas têm nomes pomposos, mas para Vos ser franco, não me parecem lá muito bem escolhidos… Letícia, Victoria, Margarida, Carolina, Stephanie, Máxima, não são nomes de princesa. Esta, a da nossa história, era simplesmente Princesa, não tinha nome, mas cabelo aos caracóis como uma verdadeira Princesa. Eram muitos… mais de quatro mil, quando contados.
Feitas as apresentações, resta contar a odisseia do Senhor Arquitecto Lopes da Lua, o homem dos sonhos concretizados.
A leveza seria a chave do problema: um castelo de cartão flutuando em nuvem de algodão ou em balão… sim balão, disse eu influenciando a história:
- Senhor Arquitecto, é possível colocar a voar um castelo! - e lá lhe contei a história do maestro que voou pela cidade com a sua orquestra, fazendo chover musica em cada canto do burgo distante…
E assim, tipo engenhocas, ajudei à solução. O resto, terei de dizer, o mérito é do Arquitecto.
Convocou o dragão para a construção. Com a sua respiração, insuflou um balão com o formato de nuvem. O castelo de cartão, cortado de uma caixa de lego, foi “scanarizado” a preceito. Muitas vezes aumentado em programa informático, recortado e montado com paciência de mestre, ficou pronto num instante. Com cola de algas do mar, transportadas pelo dragão, assim se fixou, o castelo àquele bonito balão. Neste passe de magia, luar e inspiração, o balão lá levantou com o castelo a pairar, ficando perto da lua, como a Princesa ordenou.
Faltava a acção final: o transporte da Princesa para a nova habitação. Com o dragão mesmo à mão, sendo necessário voar, as suas asas se abriram esplendorosas e azuis, aconchegando-a para a viagem longa e demorada. Adormeceu com este doce embalar… e sonhou:
"era uma vez uma Princesa que vivia num castelo perto da lua. O dragão que vivia no fundo do mar, visitava-a todas as noites, antes de adormecer. Chegava, respirava forte enchendo o balão, que de tempos a tempos necessitava de manutenção. Após o banho, secava-lhe os caracóis, com 4000 beijos mornos e contava-lhe a história do Príncipe que era também Dragão".

sábado, 20 de junho de 2009

lenga-lenga


as notas dançam nas pautas
com ritmo desenfreado
são notas que andam incautas
ensaiam sapateado

com sapatos de madeira
(que bailado mais marado)
fazem lembrar brincadeira
do meu gato no telhado

alguns são mesmo de zinco
que brilha à luz do sol
como a prata de um brinco
ou o peixe no anzol

às vezes enferrujado
pendurado numa linha
abre a boca ensonado
e deixa fugir a sardinha

apanhada distraída
cai numa lata vistosa
tem de esperar ser servida
em salada saborosa

comida por par de cotas
donos de um rádio cansado
donde saem umas notas
que dançam sapateado