sábado, 27 de junho de 2009

o menino de chocolate


Vou-te contar a verdadeira história do “Chico Dark”, o menino de chocolate. Logo após o nascimento, a surpresa foi geral. A mãe, “White com Passas”, nunca imaginara ter um “Dark”, e logo a 70 %. O pai, um exemplo para toda a família, era “de Leite”, simples, gostoso e bem clarinho. No entanto tinha havido na sua família um descarrilamento chocolateiro, quando um avô aventureiro, se apaixonou por uma chocolatinha de São Tomé, de 80%. Estava ali a razão do nascimento do Chico, seu nome completo, Francisco Late Dark, na escola abreviado para Chico-Late Dark.
O Chico foi crescendo feliz, embora com um feitiozinho muito especial. Era p’ro amarguito, quando lhe chegava a mostarda à tablete. Como verdadeiro chocolate que era, o Verão era uma consumição. Sabia mesmo que uns parentes italianos afastados, os Ferrero Rocher, recusavam-se a sair de casa naquele período do ano, mesmo que fossem tentados pelo Ambrósio, um fulano tenebroso ao serviço de uma duquesa queque que pretendia liquidar toda família sempre que desejava algo.
No entanto, o Chico, destemido e duro como era, inventou uma roupagem protectora para as suas passeatas de Verão. Numa festa importante encontrou os manos Moet e Chandon, dois champanhes de riquíssima qualidade, vestindo roupas chiquíssimas prateadas, que os mantinham sempre fresquinhos. Pois, foi com eles que aprendeu o truque… encomendou coisa semelhante e resolveu o problema que o atormentava. Enquanto todos andavam de calções e t-shirts, o Chico saia de casa todo quitado com capa prateada que lhe cobria o corpo por completo, não o deixando derreter. Mesmo assim, havia dias, que sentindo-se amolecer, tinha de correr para o hipermercado mais próximo, e meter-se uns bons minutos numa arca congeladora sem ninguém ver. Foi numa destas aventuras derretidas, que o Chico foi apanhado pela controladora. Estava escondido no meio dos camarões congelados, e quando encontrado no lugar errado, foi logo colocado na prateleira respectiva, a dos chocolates. Era o início da sua grande aventura! Poucos segundos depois, sem tempo para fugir, foi comprado por um menino encantado. Apaixonado, e porque sabia que a sua namorada coleccionava chocolates, levou-o com muito carinho para a sua amada, que feliz com uma prenda tão bonita, a colocou numa vitrina linda, com montes de chocolates. Fez muitos amigos, chocolates de origens diversas e de raças multicores. Brincava muito com os endiabrados Smarties e estudava com o coelhinho da Páscoa, um sábio na arte de ensinar tudo o que um chocolate deve saber. No entanto, embora de vidro, aquilo era uma autêntica prisão… Tinha tantas saudades, de voltar a ser um chocolate livre e travesso. Um dia apaixonou-se pela mais recente moradora, Regina de seu nome. Descendente de uma família Imperial, era linda, doce, soft, recheada … Juntos sonhavam com a liberdade e derretiam-se em beijinhos. Uma noite, distraidamente a menina dos chocolates deixou a porta da vitrina aberta. Foi o milagre tão esperado. Era Verão, e embrulhados em prata, os dois fugiram e eu próprio não sei onde hoje vivem. Tenho no entanto o pressentimento que Chico-Late e Regina são felizes, vivem perto de um congelador, porque derretem-se de amores um pelo outro…

domingo, 21 de junho de 2009

castelo na lua


É mais uma história de princesas, castelos, príncipes e dragões. Nesta, a Princesa era mesmo quase real, embora andando de vez em quando na lua. Dizia-se lunática e por isso mesmo chamou um arquitecto especialista em também andar na lua e ordenou:
- Senhor Arquitecto, quero morar perto da lua…
O arquitecto coçou a cabeça e chegou a comparar este pedido com um outro, de um dragão, que lhe tinha solicitado viver no mar. Dizia, vai lá saber-se porquê, que queria misturar-se com o azul das ondas… Fora um grande desafio: mar, fogo, dragão, implicam quase uma coexistência impossível. Mas, pensava ele com os seus cordões (não, não é erro, aluado como é, o nosso arquitecto já há muito tinha perdido os botões da camisa, que apertava agora solenemente com bocadinhos de atacadores, de várias cores): se o dragão lá continua sem o fogo se apagar, a Princesa também perto da lua há-de morar…
Era um projecto arrojado para o Senhor Arquitecto Lopes Loureiro! Assinava LL, e entre os colegas e clientes era conhecido pelo Lopes da Lua. Não valerá a pena qualquer explicação, depois do episódio dos cordões, mas uma coisa vos garanto: só ele poderia satisfazer o sonho da Princesa.
A Princesa não tinha nome, como em todas as fábulas, verdadeiramente apaixonantes. As outras, as que não tendo castelos encantados e ousados, as que aparecem escarrapachadas nas revistas de historietas sociais, todas têm nomes pomposos, mas para Vos ser franco, não me parecem lá muito bem escolhidos… Letícia, Victoria, Margarida, Carolina, Stephanie, Máxima, não são nomes de princesa. Esta, a da nossa história, era simplesmente Princesa, não tinha nome, mas cabelo aos caracóis como uma verdadeira Princesa. Eram muitos… mais de quatro mil, quando contados.
Feitas as apresentações, resta contar a odisseia do Senhor Arquitecto Lopes da Lua, o homem dos sonhos concretizados.
A leveza seria a chave do problema: um castelo de cartão flutuando em nuvem de algodão ou em balão… sim balão, disse eu influenciando a história:
- Senhor Arquitecto, é possível colocar a voar um castelo! - e lá lhe contei a história do maestro que voou pela cidade com a sua orquestra, fazendo chover musica em cada canto do burgo distante…
E assim, tipo engenhocas, ajudei à solução. O resto, terei de dizer, o mérito é do Arquitecto.
Convocou o dragão para a construção. Com a sua respiração, insuflou um balão com o formato de nuvem. O castelo de cartão, cortado de uma caixa de lego, foi “scanarizado” a preceito. Muitas vezes aumentado em programa informático, recortado e montado com paciência de mestre, ficou pronto num instante. Com cola de algas do mar, transportadas pelo dragão, assim se fixou, o castelo àquele bonito balão. Neste passe de magia, luar e inspiração, o balão lá levantou com o castelo a pairar, ficando perto da lua, como a Princesa ordenou.
Faltava a acção final: o transporte da Princesa para a nova habitação. Com o dragão mesmo à mão, sendo necessário voar, as suas asas se abriram esplendorosas e azuis, aconchegando-a para a viagem longa e demorada. Adormeceu com este doce embalar… e sonhou:
"era uma vez uma Princesa que vivia num castelo perto da lua. O dragão que vivia no fundo do mar, visitava-a todas as noites, antes de adormecer. Chegava, respirava forte enchendo o balão, que de tempos a tempos necessitava de manutenção. Após o banho, secava-lhe os caracóis, com 4000 beijos mornos e contava-lhe a história do Príncipe que era também Dragão".

sábado, 20 de junho de 2009

lenga-lenga


as notas dançam nas pautas
com ritmo desenfreado
são notas que andam incautas
ensaiam sapateado

com sapatos de madeira
(que bailado mais marado)
fazem lembrar brincadeira
do meu gato no telhado

alguns são mesmo de zinco
que brilha à luz do sol
como a prata de um brinco
ou o peixe no anzol

às vezes enferrujado
pendurado numa linha
abre a boca ensonado
e deixa fugir a sardinha

apanhada distraída
cai numa lata vistosa
tem de esperar ser servida
em salada saborosa

comida por par de cotas
donos de um rádio cansado
donde saem umas notas
que dançam sapateado

domingo, 12 de abril de 2009

o anjo de Aquila

Para o António, viver na Terra era um engano… Claro que tinha mamã e papá, mas fora obrigado a nascer há uns meses atrás…
Embora ninguém reparasse, devido à sua tenra idade, o menino era adulto no pensar… Sabia das guerras, dos terrorismos, das crises económicas, do inferno que lavrava um pouco por todo o lado. O António não arranjava explicação para quase tudo o que sabia… ouvia à sua volta as conversas dos adultos e questionava-se: não percebia o porquê de estar ali ainda. Sorria, sorria muito com todos os que se aproximavam do berço e diziam as palermices do costume. Era obrigatório, trazia essas instruções. Os deuses explicaram tudo… No entanto, o António, contrariando a missão encomendada, amava muito os pais… Chorava mesmo só para lhes cativar a atenção, ter os miminhos reconfortantes deles, sentir o coração da mãe bater perto de seu… Era assim, o António… Um anjo que nos visitava, um espião dos céus no inferno da Terra…
António estava cansado, queria ir embora, partir, voltar para o lugar de onde viera… Tinha mesmo convencido muitas crianças que o visitavam. Durante aquelas conversas parvas do “ai que menino tão lindo”, “sai mesmo ao pai”, “tem os olhos da mãe”, comunicava com as crianças que na enxurrada dos amigos da família também o vinham espreitar… Tinham um plano secreto, deixarem Aquila, voltarem juntos para o mundo dos deuses… e planeavam, planeavam juntos, planearam durante cinco meses…
Ao fim desse tempo, com toda esta conspiração, os deuses zangaram-se com o António… Num assomo de fúria, berraram, fizeram um barulho infernal, deram murros em todo o lado. Vocês sabem o que acontece quando os deuses se zangam… Fizeram tremer tudo em volta do António… Os deuses, vieram buscá-lo, muito zangados…
Conforme o combinado, vários amiguinhos do António também seguiram viagem e hoje vivem todos felizes, na terra dos deuses e dos sonhos. Ouvi dizer que depressa esqueceram a Terra onde viveram e riem-se quando nos espreitam lá de cima…

sábado, 4 de abril de 2009

João Feijão

O João era um menino muito engraçado e ladino. Tinha no entanto um pequeno grande defeito… Era um bocadito porquito… Por preguiça ou por malandrice, não gostava mesmo nada de lavar os pezinhos, o rabinho e os tintins, antes de dormir. Muitas vezes os papás do Joãozinho, pensavam que ele os lavava sozinho, mas ele enganava-os com um sorriso matreiro. Evidentemente que os paizinhos do Joãozinho também não revelavam muito cuidado, pois podiam controlar um bocadinho melhor esta situação.
O João gostava de andar de sandálias. Como podem imaginar, de sandálias e sem lavar convenientemente os pés, aquilo foi um acumular de terrice ao longo do tempo. O rabito e os tintins também não estavam melhores…
Pois é! Adiantando um bocadinho mais a história, acontece que de um dia para o outro com aquela imundice toda, começaram a crescer uns pequenos feijoeiros entre os dedos dos pezitos do João. Inicialmente eram umas pequenas folhas, que quase ninguém via, mas de repente aquilo tomou tal proporção que toda a gente percebia que eram verdadeiros feijoeiros!!!! Na escolinha já toda a gente lhe chamava João Feijão. Cantavam mesmo uma canção…
FUJAM, FUJAM COLEGUINHAS
LÁ VEM O JOÃO FEIJÃO,
COM AS SUAS SANDALINHAS
E A SACOLA NA MÃO
A professora bem se esforçava por convencer o João a ter os devidos cuidados de higiene, mas ele, indiferente aos conselhos, lá continuava na sua vidinha porcalhota. Os feijoeiros estavam cada vez maiores… Achava mesmo que no rabiote lhe estava também a nascer um. Com dificuldade calçava as sandálias, e demorava agora o dobro do tempo a chegar à escola, pois além do peso, a ramagem obrigava-o a ter mais cuidado a atravessar as ruas… Mas teimoso como um burro, continuava a não cuidar da sua higiene e até já se gabava, vejam lá, de ter comido sopa de feijão da sua produção.
A coisa estava complicada, já nenhum coleguinha gostava de brincar ou estar à beira dele.
Como na Bela e o Monstro, também nesta história havia uma bonita menina, a Ritinha. Lourinha, de olhos azuis, todos a queriam para namorada… O João não fugia à regra. Também ele gostava dela, mas nem se atrevia a chegar perto.
Um dia, depois de uma sessão contínua da maldita canção,
FUJAM, FUJAM COLEGUINHAS
LÁ VEM O JOÃO FEIJÃO,
COM AS SUAS SANDALINHAS
E A SACOLA NA MÃO
a Rita encontrou-o no meio do jardim da escola a chorar convulsivamente. Para vos dizer a verdade, a menina viu-se um bocadinho aflita para o encontrar. Os feijoeiro eram já tantos, que só umas quantas lágrimas pousadas na ramagem, puderam ajudar a identificar o João Feijão.
Foi então que a Ritinha ganhou coragem de lhe dizer o que lhe ia no coração. Ela gostava do João Feijão. Por vergonha, nunca dissera a ninguém e prometia agora, perante ele, que se ele mudasse seria sua namorada, fazendo inveja a todos os outros meninos da escola.
Ao outro dia a professora marcou falta ao João Feijão. Pela primeira vez nesse ano ele não apareceu na escolinha…. Estavam todos enganados, o João lá estava, juntinho à Rita. Todos julgavam que era o novo menino que há muito se esperava, vindo da escola do outro lado da cidade…

Mr. Magoo no futebol


O Mr. Magoo continuava cegueta como uma toupeira. Para ajudar, o cão a quem eu decidi chamar Pitosga, não via um comboio à distância de 5 cm… A sorte e o faro do cão iam dando uma ajuda para evitar grandes acidentes.
Naquele dia radioso, no meio de um transito terrível, Mr. Maggoo e Pitosga meteram-se a caminho, na carripana toda amolgada, resultado de 1001 acidentes. Por cima de passeios, em contra-mão, aos zig-zags e até de marcha-atrás, Mr. Magoo e Pitosga lá iam assobiando e rindo. Todas as pessoas que se cruzavam com eles ficavam amarelas de medo. Por isso mesmo o Mr Magoo chegou a pensar mesmo que a cidade tinha sido invadida por chineses... Em mais uma manobra perigosa, a carripana galgou o passeio quase atropelando um peão… Com o à vontade que todos reconhecemos, Mr. Magoo exclamou:
- Viste, viste Pitosguinha aquele chinês ali? Ainda não percebeu que é proibido andar a pé nas estradas… Raios partam tantos chineses que hoje nos aparecem pela frente…
Aquele dia era importante para a cidade. Um importante jogo de futebol tinha começado há pouco tempo, no Estádio Municipal. Os últimos espectadores corriam para o campo, tentando não perder os acontecimentos. No meio daquela confusão toda, Mr. Magoo entrou com o carro dentro do relvado, quase atropelando meia dúzia de jogadores, e sob um enorme coro de assobiadelas.
- Que estrada verde tão fixe e com música ambiente … Já viste Pitosga? – dizia Mr Magoo acelerando no relvado….
O árbitro ao ver aquela confusão, correu para a carripana, sacou do cartão amarelo e tentou espetá-lo nos olhos do Mr. Magoo… Ao ver aquilo, pensando estar em presença de um semáforo com a luz amarela acesa, Mr. Magoo acelerou ainda mais, para não se ver obrigado a parar ao sinal vermelho…
- Agarra-te Pitosga, que se paro com o amarelo a carripana nunca mais arranca e não saímos daqui!!!!!
O árbitro quase era atropelado não tivesse dado um salto mortal para trás que o levou até às cavalitas to Chico Fagundes, um calmeirão com dois metros, ponta de lança da equipa da casa. Mr. Magoo com esta aceleração toda, apanhou a bola com uma roda rebentando-a com um enorme estrondo. Pouco depois espeta-se contra o poste da baliza fazendo o guarda-redes pendurar-se tipo macaco na barra. O árbitro, às cavalitas do Chico Fagundes, corre em direcção à carripana e com autoridade de um verdadeiro senhor do apito, saca do cartão vermelho e expulsa Mr. Magoo… O público assobiava, ria e delirava com a cena. O Sr. Magoo, esse, lamentava-se não ter sido suficientemente rápido para ter escapado ao semáforo vermelho… Ficou ali especado há espera que o cartão do árbitro mudasse para verde…

Nodddy, o piloca furada...


Já há uns anitos largos que o Noddy estava arrumado na gaveta. Mal sentia as pernas e a cor da roupa estava desbotada. A última vez que conduziu o táxi amarelo foi para levar o Mafarrico e o Sonso ao hospital. Uns malditos bichos da madeira tinham-nos atacado durante a noite, deixando-os um pouco debilitados e furados. Ainda se lembra perfeitamente de como ficaram os bancos do táxi cheios de pó de madeira, e o trabalho que teve ao aspirá-los.Desde mais ou menos essa altura, que o chefe Toy resolveu arrumá-los a todos no armazém dos brinquedos sem saída. A culpa foi daqueles power-rangers espertalhões, que apareceram em força a fazer mariquices, que ele e os amigos não eram capazes de imitar. O Orelhas bem tentou dar uns saltos mortais para retardar a arrumação, mas tropeçou nas orelhas e estatelou-se no chão com tanto barulho que parecia que os pauliteiros de Miranda tinham resolvido aparecer na cidade. O Senhor Lei bem tentou lembrar ao Chefe o decreto-lei 127 que obrigava a um aviso prévio de um ano antes de colocar fora de serviço os brinquedos rejeitados pelos meninos, mas em vão… Os power-rangers estavam cheios de força, e os meninos não queriam brincar com outra coisa…Ainda não tinha percebido muito bem a razão porque depois de tantos anos abandonado, o chefe Toy resolveu abrir novamente todas as gavetas onde ele e os amigos estiveram guardados.- Vamos meus senhores!!!! A vossa hora chegou outra vez!!! Os pais dos meninos de agora falam tanto de Vocês que os meninos querem Vos conhecer… Saltem dessas gavetas!!! Desenferrujem as dobradiças que é tempo de voltar à cidade!!! – dizia o chefe Toy, acreditando pouco no sucesso daqueles velhos brinquedos…Quando o Mafarrico e o Sonso apareceram, saídos da gaveta número 3, provocaram gargalhada geral nos restantes brinquedos. O tratamento que lhes tinham feito no hospital não correu muito bem, e pareciam agora cheios de bexigas… Todos os buraquitos feitos pelos bichos de madeira foram tratados com uma resina de cor castanha, nada parecida com as cores das fatiotas, também elas desbotadas.O Senhor Lei desatou a chorar desalmadamente quando se apercebeu que tinha perdido o cacetete e o Orelhas só agora tinha notado que depois daqueles saltos mortais dados há 40 anos atrás tinha partido a orelha esquerda…A Macaca Marta e a Boneca Dina não apresentavam grandes anomalias, somente alguma dificuldade em mexer as pernas e os braços… A ferrugem tinha atacado, obrigando o chefe Toy a dar umas bisnagadas de óleo. Também a bisnaga estava há muito sem utilização, e o óleo saiu com tanta força que as sujou da cabeça aos pés, provocando nova gargalhada geral entre os brinquedos.Toda esta galhofa foi interrompida por um som abafado vindo da gaveta 6.- Tirem-me daqui… Tirem-me daqui que não consigo mexer-me…Todos correram naquela direcção, abrindo a gaveta apressadamente. A gaveta era de tal forma baixa, que obrigou o Sempre em Pé a ficar 40 anos deitado. O Mafarrico ao ver a cena sugeriu com ar trocista mudar-se o nome do amigo para Sempre Deitado o que provocou tal raiva no boneco que este saltou da gaveta como uma mola, recuperando definitivamente a posição que o tornou famoso.O Chefe Toy interrompeu a algazarra, lembrando que eram horas de todos irem para a oficina, para reparação e nova pintura. Mesmo o táxi amarelo tinha empalidecido, parecendo ter uma grande anemia.- Antes da oficina, isto merece uma grande comemoração – sugere o Orelhas agarrado à a orelha esquerda para a não perder.- Vamos beber um Sumol, como nos velhos tempos – lembra a Macaca Marta.- Qual Sumol qual carapuça!!!! – grita o Chefe Toy - Isso é bebida de cotas!!! Vamos mas é beber Red Bull que dá asas!!!E lá foram todos juntos. O primeiro a provar a nova bebida foi o Noddy… O sabor era estranho, nada parecido ao que estava habituado. Modernices, pensou com os seus botões…Ainda com a lata de Red Bull na mão, sentiu-se leve, levezinho e como um balão subiu no ar… Tudo bem, a sensação era óptima mas algo esquisito estava a acontecer, tudo o que bebia tudo lhe saía. Só agora tivera consciência que durante o tempo que esteve na gaveta, os bichos da madeira tinham-lhe atacado a piloca, fazendo dezenas, senão centenas de furos.Cá em baixo os amigos, numa risota pegada, protegiam-se da maneira que podiam daquela chuvada…O Sonso, não parecendo nada sonso, gritou para o amigo voador:- Estás a perder gasolina, Piloca Furada…O nome pegou! Desde aí, entre os amigos, todos passaram a chamar-lhe Noddy, o Piloca Furada.

Vasquinho da goma


O Vasquinho morava numa vila pequenita à beira de um riacho. Desde pequeno que o miúdo se dedicava a descobrir pequenas coisas, lá na terra onde nascera. Esta mania da descoberta levava-o a aventurar-se por caminhos e ruelas desconhecidos, sempre à procura de aventuras, sempre à procura de novidades. No entanto era o riacho que lhe despertava mais curiosidade. Toda a gente da vila dizia que ele seria um grande descobridor. A família era grande. Tinha 6 irmãos, três rapazes e três raparigas, o que lhe permitia dar umas escapadelas de casa sem ninguém dar conta. A primeira grande descoberta do miúdo, aconteceu aos seis anitos, quando sem querer descobriu, o caminho aéreo para o quintal. Caiu da varanda de sua casa, quando tentava apanhar uma passarito que se tinha empoleirado na corda de secar a roupa. Esta importante descoberta não teve consequências graves, pois o Vasquinho aterrou no meio das mamarocas da tia Joaquina, que com os seus cento e cinquenta quilos, vinte em cada um dos amortecedores utilizados na aterragem, safou o rapaz de descobrir o caminho directo para o outro mundo.Esta experiência aérea, teve uma influência determinante no seu futuro. O Vasquinho decidiu que não mais utilizaria o ar nas suas descobertas.O passo seguinte, também um acaso na sua vida, aconteceu depois do entupimento geral do saneamento existente na terra, já tinha o Vasquinho cerca de 10 anos. Uma manhã bem cedinho, com a vila em pantanas e alguns tubos de esgotos acessíveis, decidiu meter-se a caminho e explorar a tubagem, munido de kispo, óculos de sol tipo mosca que pediu emprestados à avó Té, barbatanas e tubo de mergulhador. Introduziu-se no esgoto, mesmo à beira da mercearia do tio Joaquim e lá foi ele meio a navegar meio a mergulhar, pelo esgoto abaixo. Quando submerso, tinha alguma dificuldade em ver o caminho. Os óculos escuros não ajudavam nada no meio daquela escuridão toda, por diversas vezes bateu com a cabeça nas paredes das tubagens, quando as curvas eram mais apertadas. Não Vos falo nem do cheirete nem do lindo estado em que o Kispo se encontrava… Para terem uma ideia, o azul-bebé inicial, parecia mais azul cueca, depois de uma grande diarreia.A viagem durou uma boa meia hora. Conheceu todos os recantos “esgotorais” da vila e cruzou-se com várias famílias de ratos e ratazanas que ao vê-lo julgavam estar em presença do monstro Adamastor, fugindo a quatro patas pelas saídas para as sanitas que encontravam mais próximas. Uma família inteira de ratos, durante a fuga, entrou directamente na sanita do menino Joquinha que, como sempre, se encontrava refasteladamente a ler o jornal no quarto de banho. O susto foi tão grande, que o Joquinha esteve uns tempitos sem ler jornais e quando tinhas que fazer as suas necessidades, punha-se de cócoras na sanita sempre controlando a situação, não fosse outra vez surpreendido por mais ratos a fazerem-lhe cócegas no rabo.Por fim o Vasquinho lá avistou uma luz ao fundo do túnel que no seu caso era o tubo de esgoto. Era o seu destino. O riacho estava logo ali e com uma velocidade estonteante, entrou directo na água. Aproveitou para lavar todo o equipamento e salvou de morrer afogado, um rato que estava escondido no seu bolso.Ali tinha ele, à sua frente o sonho de criança. O riacho da vila. Porta para outros mundos, caminho de descobertas. Sim, como Vos disse no início desta história, descobrir o riacho era o grande sonho do Vasquinho. Agora, outros objectivos bailavam na sua mente. Queria ir mais além. Queria navegar, queria explorar aquela estrada de água, queria descobrir aquele caminho pelos seus próprios meios.Logo começou a fazer planos. E quinze diazitos depois, tinha já tudo preparado. A bacia grande da roupa era o barco. A pá da horta o remo e quanto ao resto, levaria os inseparáveis Kispo azul-bebé e óculos de sol tipo mosca. Para a viagem, pelo sim pelo não, colheu meia dúzia de maças, cinco peras e algumas cerejas da horta do avô. Pediu boleia ao padeiro para chegar ao rio e lá foi ele devidamente preparado mas sem a noção exacta de destino.O tempo estava bom, e a navegação foi-se fazendo sem grandes sobressaltos. O remo era um pouquito pesado, mas ele só o utilizava para contornar obstáculos ou para definir a trajectória da bacia.Depois de cerca de duas horas de navegação, avistou mulheres lavando roupa à beira rio. Resolver atracar e conversar com elas. Eram simpáticas, e muito prestáveis. Explicaram-lhe que pertenciam a uma aldeia a cinco quilómetros do rio, que se chamava Gomaleira. Possuíam um velho segredo que era o de terem pomares e pomares de árvores com guloseimas. As árvores de fruto não vingavam naquela região, por isso a mercadoria transportada pelo Vasquinho no seu barco improvisado, era de um valor incalculável. Deram a provar ao menino aqueles doces celestiais, desconhecidos na sua aldeia e estabeleceu-se logo ali um negócio: o Vasquinho dava a fruta que trazia e elas enchiam-lhe a bacia com gomas. Como sabiam que o regresso seria muito mais difícil, atendendo ao peso e a correnteza do rio, as mulheres ofereceram ao miúdo um remo mágico que em contacto com a água fazia o barco navegar facilmente. Acordaram também que sempre que quisesse, o Vasquinho poderia aparecer com fruta porque as trocas seriam proveitosas para ambas as partes negociadoras.O Vasquinho não cabia em si de contente. Descobrira o caminho “riachal” para a Gomaleira e encontrara um doce que poderia torná-lo famoso na sua vila. O regresso fez-se efectivamente depressa. O remo mágico funcionava em pleno, e não tivesse ele cuidado com a oferta, a bacia transformar-se-ia em avião, tal era a velocidade imprimida pelo remo quando exageradamente em contacto com a água. Isso é que ele não queria! Chegara-lhe o voo efectuado quando era mais pequeno, desde a varanda até ao quintal. Experiências aéreas, não obrigado.Em quinze minutos estava de volta a casa com a preciosa mercadoria. Não contou nada a ninguém, mas ao outro dia andou pelas ruas da vila a distribuir guloseimas por quem passava. Todos achavam aquele doce elástico uma coisa do outro mundo, e por vir da “Gomaleira”, o Vasquinho baptizou-o com o nome de GOMA. O ritual da distribuição de gomas na aldeia passou a ser frequente. Mais ou menos uma vez por semana, sem ninguém saber, o Vasquinho navegava até à “Gomaleira” com fruta do pomar do avô e regressava carregado de gomas para distribuir pelos amigos. Ele era o herói da terra. Todos lhe chamavam VASQUINHO DA GOMA.

Tunguinha, o verdete amarelo...


O TUNGUINHA era um menino chinês. Era terrível. Passava a vida a chatear os colegas da escola, os vizinhos, os professores e mesmo os animais da quinta onde vivia nunca estavam sossegados. Era conhecido por TUNGUINHA, O VERDETE AMARELO. O Amarelo vinha-lhe da cor da pele, mas o Verdete perceberão mais à frente de onde surgiu. O porco SÓTÓTÓ estava farto dele… O TUNGUINHA entretinha-se a colocar pedras de gelo na sua pocilga. Na piscina, como o SÓTÓTÓ gostava de dizer. Como sabem, a pocilga é um local onde abunda a lama, e qualquer coisa lá colocada não é visível…. Imaginem o sofrimento do porco quando, contando deliciar-se com um banho de lama quentinha, encontrava, ao entrar na pocilga uma temperatura tão baixa que até os tintins tremiam de frio. Por causa disso, o SÓTÓTÓ passava o tempo constipado. A vaquinha MAMAROCAS tinha também muito que contar. Por diversas vezes tinha sido incomodada pelo TUNGUINHA. Um dia, enquanto dormia, o TUNGUINHA pintou de branco todas as suas manchas pretas. Quando isto aconteceu, todos os animais da quinta iam morrendo de medo por julgarem estar em presença de uma vaca fantasma… O SÓTÓTÓ apanhou um susto tão grande que durante três dias não parou de fazer xixi.O galo CÓCÓ ganhou o seu nome depois de uma patifaria do nosso “artista”. Durante toda uma noite, o TUNGUINHA colocou acesa, dentro da capoeira, uma luz tão forte que o galo, pensando ser dia, passou o tempo a cantar. Ao princípio ainda conseguia repetir várias vezes CÓCÓRÓCÓCÓ, CÓCÓRÓCÓCÓ, CÓCÓRÓCÓCÓ… Mas depois ficou tão rouco e tão cansado que passou a cantar CÓCÓ, CÓCÓ, CÓCÓ…Os sapos do lago eram quatro. O CArlitos, o GAstão, a NIta e o TAdeu eram muito divertidos. Como andavam sempre juntos e para não perderem muito tempo a chamar por eles, os outros habitantes da quinta chamavam-lhes os sapos CAGANITA. O que eles sofreram quando o TUNGUINHA colocou moscas de Carnaval, em borracha, no lago onde viviam. Comeram-nas julgando serem verdadeiras e andaram mais de uma semana sem irem à casa de banho…Depois de todas estas patifarias, os animais da quinta reuniram-se às escondidas. O TUNGUINHA não podia saber de nada. Se suspeitasse de alguma coisa, desconfio que iam parar a algum sítio não muito agradável. Queriam dar uma lição ao TUNGUINHA. Houve várias propostas. Os sapos CAGANITA apresentaram uma ideia genial. Todos sabiam que a cor preferida do TUNGUINHA era o encarnado. Na quinta, todas as manhãs o verdete hasteava uma bandeira daquela cor e usava muitas vezes um lenço encarnado ao pescoço. Manias…Não sei se também sabem, mas os sapos para manterem a sua bela cor verde, tomam dia sim, dia não um comprimido VERDUL. O verde era uma cor odiada pelo chinesito. Assim sendo, estão já a adivinhar a lição que os habitantes da quinta prepararam para o TUNGUINHA… Convenceram o padeiro da aldeia a meter um VERDUL no pão que todos os dias ele comprava. O nome estava criado. Nascia assim a história do TUNGUINHA, O VERDETE AMARELO.